Luis Felipe Miguel
É interessante notar que boa parte das propostas de "renovação da esquerda" desembocam, basicamente, em fazer com que ela perca suas características de esquerda.
A esquerda precisa superar seu "autoritarismo", o que significa aceitar plenamente os
marcos da institucionalidade dada e abrir mão de maneiras de enfrentar seus vieses evidentes. Precisa superar seu "populismo", isto é, abandonar o compromisso forte com o igualitarismo. Precisa superar as "ilusões" de que é possível transcender o capitalismo e avançar na construção de uma sociedade sem opressão, sem exploração e sem alienação.
O que resta, nessa narrativa, para a esquerda se diferenciar, digamos, do centro? Como um dos pecados da esquerda atual é fazer política, resta adotar uma pureza que representa, na verdade, um recuo para um entendimento pré-maquiaveliano do fazer político e, portanto, a inefetividade completa de seu agir.
Penso, ao contrário, que o caminho da renovação da esquerda é a pequena trilha, ainda a ser encontrada, em que ela se reconecte com a radicalidade de seus ideais sem perder um sentido vigoroso da realidade.