Como ganhar na loteria esportiva


Eu nunca consegui completar nem álbum de figurinha na minha vida. Por isso, passei tempos sentindo tremenda inveja de Miron Vieira de Souza. Goiano da cidade de Ivolândia, Miron acertou sozinho, em setembro de 1975, o teste 254 e ganhou algo equivalente a três milhões de dólares. Encheu a burra. Eram tempos em que a loteria esportiva distribuía prêmios gordos, daqueles que faziam o sujeito resolver a vida de cinco gerações da família. Analisando hoje as treze partidas que deram a fortuna ao cabra, constato que ele ganhou porque não entendia bulhufas de futebol. Fez a aposta mínima, não jogou um mísero duplo e cravou os resultados mais absurdos.

Esse teste 254 foi um passeio na savana; repleto de zebras. O Corinthians empatou com o Rio Negro de Manaus e o Palmeiras empatou com o Nacional, também da capital do Amazonas; um time que à época tinha cinco índios botocudos no elenco. O resultado mais inusitado, porém, e que praticamente deu a Miron o prêmio sozinho, foi o do jogo entre o Vasco, campeão brasileiro do ano anterior, e o América de Natal, em São Januário. O América venceu por 1 a 0.

Quando foi entrevistado sobre o fato de ter sido o único brasileiro a cravar a vitória do América potiguar sobre o bacalhau, a resposta de Miron foi magnífica:

- Achei que era o América do Rio.

Acontece que o América do Rio
enfrentou naquele fim de semana o Fluminense [2 x 0 para o tricolor] e o jogo também fez parte da loteria. A explicação de Miron foi mais incrível ainda:

- Eu achei esquisito o América jogar duas vezes no mesmo dia. Por isso é que botei o time ganhando uma e perdendo outra.

A imagem do novo milionário, abrindo um monumental sorriso desdentado, o tradicional sorriso 1001, ganhou os jornais do mundo todo. Miron, um empregado de mercearia que ganhava salário mínimo e só sabia assinar o nome, virou fazendeiro – criador de gado de corte – e colocou uma dentadura cheia dos salamaleques, daquelas de garoto propaganda da Corega Tabs. O sorriso banguela, porém, ficou consagrado como uma das imagens marcantes do século XX.

Esta reportagem fala também do Dudu da Loteca, um ganhador da loteria de Madureira que torrou a grana fazendo maluquices e ficou durango kid em curto espaço de tempo. E reparem a emoção de Miron comemorando o prêmio e levantando a camisa para secar as lágrimas com um inacreditável brinquedinho na cinta.


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