Janio de Freitas
Ceia de Natal resiste, mas já exala formalismo de programação comercial
Ceia de Natal resiste, mas já exala formalismo de programação comercial
As notícias começam com quatro, cinco meses de antecedência. Ano a ano. Não que falte coisa melhor para o mesmo espaço em jornais ou tempo nas tevês. É o domínio da burocracia: "Comércio espera Natal bom/ruim", "Natal será mais caro/barato", e outras embromações que nada significam.
O que rege esse noticiário não são os fatos, é o calendário. Com a aproximação de dezembro, "Importações de Natal crescem/diminuem"; "Indústria de calçados aposta no Natal", e por aí vai. E então vêm as bobices sobre o movimento de compras, o que a professora comprou, "e você está comprando muito?", "está tudo muito caro", "o
comércio aposta no 13º", e as imagens sempre iguais.
Depois são as especulações sobre resultados e os resultados de fato. O Natal é só economia.
É mesmo o Natal? É, desde que Natal se tornou nome de um período da atividade comercial. O sentido de Natal ficou posto na formalidade das "vendas e compras de Natal". Sim, a ceia resiste ainda. Mas já exala os formalismos de uma programação comercial, com os novos produtos industriais da publicidade, as ceias em bares e restaurantes, em clubes. E as vendas de ceias prontas, e não mais a obra típica de cada família, memórias remotas do paladar e da infância.
O progresso traz também mudanças que não são progresso. O Natal não escaparia aos ímpetos mudancistas e às maneiras que lhes dá a subcultura norte-americana difundida no mundo. À parte o uso que a religiosidade dele pudesse fazer, o Natal foi a mais bela das cerimônias. Quem a perdeu não foi o Natal, fomos nós.