Colunistas imbecis da Veja: Claudio de Moura e Castro

Luis Felipe Miguel

O destino, cruel, me colocou uma revista Veja nas mãos e cometi a insensatez de ler a coluna de Claudio de Moura e Castro, intitulada "Gramsci e o PCC". Para quem não se lembra dele, foi quem disse, faz uns anos, que as mulheres brasileiras deviam se casar com engenheiros estrangeiros para "aumentar o capital humano" do Brasil. Acho que esse exemplo basta para indicar o nível da criatura.

O paralelo entre Gramsci e o PCC é que "de dentro da cadeia ambos criam grandes transtornos para os brasileiros que estão de fora". Feita esta tirada, já no primeiro parágrafo, o PCC é esquecido e o resto do texto é dedicado a espinafrar o revolucionário sardo.

Ao explicar aos leitores de Veja quem é Gramsci, Moura e Castro diz que, "brilhante e com ideias próprias, acabou rejeitado pelo partido [comunista italiano]". Como não acredito em tamanha ignorância, nem mesmo partindo de um colunista da Veja, só resta me espantar com a dimensão de sua má fé. Gramsci era, por ocasião de sua prisão pelo regime fascista, o principal dirigente do PCI e permaneceu reverenciado como seu maior intelectual até o partido se dissolver, décadas depois de sua morte.

style="text-align: justify;">Daí vem a síntese do pensamento gramsciano, que eu imagino que tenha sido decalcada de algum manual do Olavo de Carvalho. O grande pecado de Gramsci, que o faz digno de ser comparado ao PCC: "Sua bandeira era eliminar a distância entre a educação do pobre e a do rico". Ele "negava a fórmula tradicional de uma formação profissional para os pobres e uma educação clássica para as elites".

Na verdade, muito antes de Gramsci (e de muitos outros) essa era a proposta da Revolução Francesa. Tem sentido. Para a direita brasileira, o programa da Revolução Francesa é o comunismo.

O problema da educação universal, para Moura e Castro, é negar uma hierarquia inamovível: "gostemos ou não, no mundo real os filhos dos pobres já chegam à escola com grandes desvantagens". Uma desigualdade que "não pode ser consertada". Tentar fazê-lo é inútil e "só pode aumentar a desigualdade". No século XVIII, Edmund Burke - não por acaso o inimigo nº 1 da Revolução Francesa - dizia que tentar reduzir a desigualdade retirava, daqueles que estavam predestinados a uma vida "laboriosa e obscura", a única felicidade que poderiam alcançar, a "felicidade de conhecer o seu lugar”. No século XXI, no afã de defender a reforma do ensino médio de Temer, o colunista da Veja chega a conclusão similar.

Se a gente pensar na direção contrária, pode concluir que, com uma educação universal e de qualidade, seriam as nossas meninas que se tornariam engenheiras e poderiam "aumentar o capital humano" do país

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