O Mussolini da cachorrada

O DUCE DA CACHORRADA
Palmério Doria

João Dória é um novo riquinho com baixas aspirações na alta sociedade. Um dia, depois da terrível e humilhante rejeição, ser aceito na Sociedade Harmonia de Tênis, onde não é bem-vinda gente de pele sequer morena, sem sobrenome importante, ou com sobrenome judaico ou árabe. Nunca se conformará com a "irrecorrível" bola preta que levou.

O novo rico sonha com pedigree. Mas aí o sonho de repente -- não, mais que de repente -- torna-se pesadelo. Lembra aquele sorriso de ironia de um integrante da plutocracia com cruzamento de sobrenomes quatrocentões. De certa maneira lembram os casamentos e desfiles dos lulus da Campos do Jordão, onde ganhou fama como duce da cachorrada.

Cuidado com a memória do repórter, dizia João Antônio.

João Dória também sonhou ganhar o Rio. Quem bumba na Cidade Maravilhosa, bumba no Brasil, imaginava. Estamos na era Sarney. Sua plataforma de lançamento era a Embratur. O bigodudo lhe colocou a presidência da entidade nas mãos. E ele partiu com a disposição e gana dos alpinistas sociais.

Por acaso, chamado pela amiga Anna Maria Tornaghi, sentei na mesa do restaurante Caesar Park em que tentava contratar a promoter para pôr a inestimável rede de relações nacionais e internacionais dela não a serviço da Embratur, o que seria natural, mas dele. Notei o desconforto de Anna, que acabava de voltar de
Nova|York, onde encontrara chapas do naipe de Woody Allen.

Gana, disposição e ausência de semancol semelhante só vi em Nizan Guanaes quase no fim dos anos 80 na casa de outro amigo, Michael Koellreutter, então homem da Interview no Rio. O Golden Boy do Gantois, recém-chegado da Bahia, ia lançar sua agência de publicidade no Sul Maravilha. Queria o mesmo tipo de serviço do Michael. que trocou com ele todos os afetos, de baiano para baiano, e indicou a mesma Anna para a tarefa. Desculpou-se:

— Não sou do ramo.

Uma delicado me inclua fora dessa.

Não demorou para João Dória se entrutar na Embratur. Bem que podia ser chamada de Embrabundas em sua gestão de choque. Nada contra bundas, que havia poucos anos era chamada por eufemismos indecentes como preferência nacional. Tudo contra a Embrabundas de João Doria. Promovia descarado turismo sexual, Houve grita na imprensa.

Balançou, mas não caiu. Até o TCU apurar que tinha desviado Cz$ 6,5 milhões da Embrabundas, quantia capaz de garantir capital primitivo de um qualquer para qualquer uma dessas lides.

De lá pra cá, João Dória ganhou zilhões prensando empresários e políticos. Chegou a brigar com o futuro detento de Taubaté, Edemar Cid Ferreira. Afinal, quem era dono da mansão mais faustosa do Morumbi? 

O problema, e essa será a desgraça dele, é que precisa acumular cada vez mais bufunfa e maçaranduba pra chegar ao Harmonia. 

Se um dia chegar, será tratado como lulu. Presidente Lulu. Essa elite paulistana não presta.

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