Willian Pina Botelho, que se apresentava nas redes com o nome de Balta Nunes |
Quando José Sarney assumiu a presidência, na transição do poder para os civis, manteve em funcionamento o SNI - Serviço Nacional de Informações, o órgão de espionagem política da ditadura. Seu chefe tinha o status de ministro. No governo Sarney, o SNI continuou espionando sindicatos e movimentos sociais.
Fernando Collor assumiu o governo pela direita, mas brigado com o SNI. Num episódio famoso, havia chamado seu chefe, o general Ivan de Souza Mendes, de "generaleco". Logo no início de seu mandato, ele extinguiu o órgão, substituindo-o por um departamento na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Em 1999, Fernando Henrique Cardoso criou a Abin - Agência Brasileira de Inteligência, desmilitarizada e, segundo seu próprio discurso, adaptada a uma sociedade democrática.
Os arapongas passaram a ser contratados por concurso público, com um perfil semelhante ao dos outros jovens com diploma universitário atraídos pelos bons salários das carreiras que FHC definiu como "típicas de Estado".
O governo Fernando Henrique, cumpre lembrar, também extinguiu os ministérios militares, unificando-os no Ministério da Defesa, sob comando civil. Em suma: após Sarney, mas desde antes dos governos petistas, há um movimento para afastar as forças armadas da intervenção política direta.
Assim que usurpou o governo, Michel Temer deu indícios que andaria para trás também nisso. Começou pela recriação do Gabinete de Segurança Institucional, com status de ministério, nomeando um general saudoso da ditadura para chefiá-lo.
Agora, foi descoberto que um capitão do Exército esteve infiltrado entre os manifestantes contra o golpe em São Paulo. É fácil rir do hoje notório "Balta Nunes" e da incompetência revelada no episódio; e observar como a "inteligência" do Exército não faz jus a seu nome. Mas certamente nem todas as operações serão tão imbecis assim.
Independentemente do grau de profissionalismo dos agentes, é muitíssimo grave que o governo use os militares para espionar, reprimir e, quem sabe?, tentar desvirtuar manifestações populares. Eu diria que os golpistas não sabem o tamanho da fera que estão soltando - mas, claro, isso só faria sentido se eles tivessem alguma preocupação com a democracia.
E, pela atenção nula (ou quase) que está dando ao caso, fica claro, uma vez mais, que nossa imprensa também está pouco se lixando para as liberdades democráticas.