Folha, um jornal contra o Brasil

Cláudio de Souza

Eu caguei pras Olimpíadas, não assisti a quase nada, não gosto da maior parte das modalidades -- e mesmo assim consigo perceber claramente o quanto o resultado final do Brasil, o melhor de todos os tempos, é sensacional, e ver quanto de sangue, suor e lágrimas há por trás dele.

Entre os medalhistas do Brasil, e mesmo entre quem não ganhou nada, mas conseguiu índice para participar dos jogos, estão pessoas que, não fosse o esporte e uma boa mãozinha do governo nos últimos 15 anos, provavelmente estariam subempregadas -- ou, no caso dos homens pretos, mortas pela PM. Isso é tão óbvio que chega a doer na vista.

Essa é uma das verdades da Rio 2016: dinheiro do governo investido em esporte amador é retorno garantido, e retorno com qualidade: é exemplo, é incentivo, é colchão social, é sentido para a vida de um monte de gente bem melhor e mais valorosa e mais brasileira do que as bestas quadradas que povoam, entre outros lugares, a redação da folha.

No começo da Rio 2016 eu disse: qualquer coisa de bom que aconteça, esse jornal vai colocar um "mas" e, depois deste, encaixar alguma merda que desmereça o acontecido (no caso, o conquistado).

Bom, a edição online do jornal não se deu nem ao menos o trabalho de citar a coisa boa. Agora há pouco, já foi direto no que seria o "mas": a meta do COB não foi atingida.

De minha parte, não tenho dúvidas de que a manchete jornalisticamente mais correta em qualquer jornal que se preze seria "Brasil tem o melhor desempenho olímpico da história", porque esse fato é mais abrangente e perene do que "Brasil termina Jogos em 13º lugar, fora da meta do COB" -- como se a meta do COB (um dado abstrato, aliás) fosse mais importante do que o desempenho em si, e do que o conteúdo humano por trás dele.

Mas o jornalismo não importa, certo?

Fico triste de ver confirmado o que escrevi há duas semanas...

A Folha não está mais à altura do papel histórico que já teve, vale dizer, o de um jornal com pelo menos uma dose, mínima que fosse, de progressismo.

Hoje ela é o que essa manchete deixa entrever: um catadão de "notícias" amontoado por um bando de gente desagradável, mal-amada, doente da alma, indesejada nas melhores mesas de bar -- e ainda assim vivendo a farsa de que são os grandes jornalistas do país (ha ha ha).

São é zumbis, ainda mais ocos que os nóias da Cracolândia, cujo CEP, aliás, é o mesmo do jornal.

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