Luis Felipe Miguel
Precisamos reconhecer: Gilmar Mendes presta um serviço ao Brasil. Ele é a encarnação perfeita da truculência da nossa casa-grande. Graças a ele, ninguém pode alimentar a ilusão de que temos uma elite civilizada.
Hoje, "em evento com empresários e executivos em São Paulo", ele começou insinuando que as políticas de combate à miséria são uma forma de corrupção. "Isso pode ser uma forma de captação de sufrágio", disse ele, pregando mais controle sobre os beneficiários.
Em seguida, reclamou que há demasiada proteção aos trabalhadores. Haveria uma "hiper proteção do trabalhador", tratado "quase que como um sujeito dependente de tutela". O raciocínio não apenas ignora a gigantesca assimetria de recursos entre trabalho e capital, que torna absolutamente indispensável a intervenção do Estado para regular a exploração, como também falsifica o sentido do direito trabalhista, que deixa de ser um resultado das lutas das classes trabalhadoras para ser uma demonstração de sua passividade.
Gilmar tenta comprovar que não precisamos de leis de proteção ao trabalho porque os sindicatos seriam fortes. E conclui: "Isso gerou, inclusive, a eleição de um presidente que veio da classe trabalhadora. A mim, parece que essa foi uma inversão".
Não sei se é um erro de formulação ou se a transcrição (da reportagem anônima da Folha https://goo.gl/7eSv3z - cortou alguma coisa, mas o que eu leio é o presidente do TSE afirmando que alguém que veio da classe trabalhadora não deve ser presidente - é uma "inversão" (da ordem natural das coisa, imagino).