Quem não tem dinheiro não faz universidade

Luis Felipe Miguel

Está circulando um vídeo em que, pressionado pelos entrevistadores, o deputado Nelson Marquezelli explode e diz que "quem não tem dinheiro não faz universidade".


Não tenho dúvida de que essa é a visão que está por trás da PEC 241. A visão de que não cabe ao Estado fornecer nenhum tipo de serviço, que cada um deve comprá-los no mercado de acordo com os recursos de que dispõe. É o famoso Estado mínimo. Seus defensores chamam isso de triunfo da liberdade. Eu chamo de barbárie. É um bom debate.

Mas não há debate. Se o Estado mínimo é tão bom, porque os defensores da PEC não o evocam? Marquezelli só soltou sua frase porque foi provocado e perdeu a cabeça. Mas a propaganda a favor do congelamento do investimento social nunca assume o projeto de país que abraça(*). Em vez disso, aposta em:

(1) Mentiras quanto a seus efeitos, como na afirmação reiterada de que não haverá prejuízo à saúde pública. Todos os economistas sérios, independentemente de posição política, têm apontado que a PEC gerará profunda crise no financiamento da saúde e da educação, além do achatamento do poder de compra do salário mínimo. Efeitos que os defensores do Estado mínimo deveriam festejar, mas que eles hoje preferem esconder.
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(2) Desinformação quanto ao conteúdo da PEC. Quem sair da bolha e espiar o que se diz aqui mesmo no Facebook vai ver, por exemplo, muita gente achando que o objetivo da PEC é impedir aumento no salário dos parlamentares. O fato de que esse tipo de percepção ganhe curso é mais uma prova do nível abissal da ignorância política que grassa no nosso país.

(3) Delírio, alucinação, desvario. Não estou exagerando: o MBL sustenta que o objetivo da PEC é salvar o Brasil do comunismo.

É fácil entender o porquê desse ocultamento. A tese do Estado mínimo é intragável; num país como o Brasil, chega a ser obscena. Por isso, a primeira batalha na luta contra a PEC é vencer o cerco da desinformação. Explicar o que ela é e quais suas consequências. Todos nós precisamos, em todos os espaços possíveis, travar essa batalha.

A segunda batalha é vencer o desencanto e o marasmo e transformar a repulsa ao retrocesso em mobilização popular. Ninguém está dizendo que vai ser fácil, mas é o único caminho.

(*) Postagem de Facebook com nota de rodapé é podre, mas vá lá: estou sendo generoso. A PEC contempla também o projeto de um país a ser saqueado pelo rentismo. O Estado mínimo é a face "respeitável" dela.

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