Luis Nassif
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Peça 4 – a era da imbecilidade
O grande desafio pela frente será o confronto entre um projeto nacional racional e a era da imbecilidade – as simplificações grosseiras que dominam os principais poderes da República, nessa era dos factoides midiáticos, e que foram agravadas pela disseminação das redes sociais.
As redes sociais criaram dois fenômenos paradoxais.
Um, a falência dos modelos tradicionais de mídia com a desorganização do mercado de informações. Outro, o aumento desmesurado do poder relativo das mídias dominantes, especialmente a concentração midiática nas mãos da Globo e da total incapacidade de contraponto pelos grupos concorrentes.
O quadro hoje em dia é o retrato acabado da mediocrização da vida pública nacional em todas suas dimensões:
1. A desorganização do mercado de informações com o aparecimento de todo tipo de fontes noticiosas, naquilo que se batizou de pós-verdade, cujo principal agente são justamente os grupos de mídia.
2. O aumento substancial da influência da informação sobre o dia-a-dia das pessoas. Antes, os jornais impactavam seus leitores uma vez por dia. Agora, as redes sociais impactam várias vezes por minuto.
Na era das redes sociais, toda disputa política tornou-se essencialmente midiática e cada vez mais pelas redes sociais. O excesso de informação acabou trazendo uma imbecilização de toda forma de pensamento. Como, por exemplo:
Imbecilidade 1 – a ideia de que as demandas das corporações são contra os direitos do cidadão.
O governador capixaba Paulo Hartung saiu-se com essa, na entrevista à Folha. Ao lutar por seus direitos, as corporações iriam contra os direitos dos cidadãos.
Há evidentes abusos em corporações públicas de ponta, como ocorre com o Judiciário e diversos Ministérios
Públicos estaduais. Com esses, não se mexe. O arrocho continuado é em cima das profissões diretamente prestadores de serviços aos cidadãos, como educaçãoo, saúde e segurança.
Em nenhum país do mundo, em nenhuma empresa organizada, a precarização do emprego produziu melhora no atendimento. Só um país de botocudos para consagrar esse princípio de que cortando rendimentos e despesas se melhora o serviço público.
Imbecilidade 2 – a ideia de que a destruição de empresas nacionais promoverá um novo renascimento empresarial.
Antes, essa tese era brandida apenas por servidores de baixo nível hierárquico ou de formação intelectual precária – como os procuradores da Lava Jato, presidentes de associação de delegados e de associação de procuradores.
Soube dia desses que faz parte do ideário do Procurador Geral da República Rodrigo Janot: se destruir as empresas atuais, imediatamente florescerá uma nova economia eficiente. É o que explica a irresponsabilidade, para com o país, da destruição da Odebrecht e de outras empreiteiras investigadas pela Lava Jato.
Ou seja, o país da banana nanica tem um Procurador Geral de baixíssimo nível intelectual, sem o menor conhecimento sobre os processos de construção de conhecimento, de desenvolvimento de tecnologias, de geração de valor pelas empresas.
Imbecilidade 3 – a ideia de que será possível congelar por 20 anos o orçamento público e desse arrocho nascerá a virtude que despertará o espírito animal dos empresários.
Juristas que defendem essa excrescência, como o Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), demonstram uma ignorância abissal sobre processos sociais e políticos.
Aliás, esta semana o jurista Lênio Streck produziu um diagnóstico arrasador sobre como a cultura do manual se apossou do Judiciário, permitindo a consagração de autores como Alexandre de Moraes (https://goo.gl/p2WYD0).
A mediocrização dos poderes, o rebaixamento intelectual não poupou nenhum poder, embora nenhum se rivalize com o baixo nível da Câmara.
No fundo, a grande disputa de 2018 será não apenas conseguir desenhar um projeto de país viável, como enfrentar o imbecil coletivo, a ditadura do senso comum, que se apossou dos principais poderes da República.