Luis Felipe Miguel
Nem ia entrar na polêmica das marchinhas de Carnaval, até porque penso que há inúmeros assuntos mais importantes. Mas estou cansado de ver colunistas de jornal clamando contra a "patrulha do politicamente correto", que quer "banir" as músicas que formam a tradição do Carnaval.
É o caso do porta-voz do liberalismo na página 2 da Folha, que hoje termina sua coluna dizendo que os foliões podem cantar sem problema os versos mais preconceituosos, pois "hoje a ideia de que todos devem ter os mesmos direitos independentemente de raça, cor, gênero, orientação sexual etc. está plenamente incorporada à visão de mundo ocidental". A gente pode questionar qual é o impacto das marchinhas, mas dizer que racismo, machismo ou homofobia deixaram de ser problemas é pura má fé.
A discussão é colocada de forma desonesta desde o princípio, quando se apresenta como uma resistência a uma tentativa de "banimento". Que banimento? O que vejo são sobretudo blocos que optaram por um repertório alternativo, não uma defesa da censura. Por que isso incomoda tanto? A patrulha na verdade vem do outro lado: querem censurar qualquer crítica ao conteúdo das letras, querem impedir que surjam alternativas, querem obrigar todo mundo a pular ao som de "Teu cabelo não nega" e "Cabeleira do Zezé".