Nem só de Bolsonaro se alimentam os jovens nazifascistas brasileiros

Palmério Dória

Conheci ainda outro dia, em reunião social, brasileiro adepto da Casa Pound, organização fascista italiana inspirada em Ezra Pound, o poeta genial que se entregou de corpo e alma ao nazifascismo. Cabeça raspada, todo tatuado, bota militar, parecia Careca do Subúrbio. Me sinalizou que nem só de Bolsonaro se alimentam os jovens nazifascistas brasileiros.

É sabido que a Casa Pound se vale de muito som para atrair seus militantes, de preferência metálica. Hinos militaristas do fascismo japonês são entoados nas celebrações. Evitam os alemães e italianos, que podem dar margem a repressão. 

Não notei qualquer pendor poético no meu interlocutor e não deu tempo de saber como aderiu. Deve ter sido no embalo do som da pesada. Pode ter ouvido gravações das conclamações que Ezra Pound fazia no radio durante a Segunda Guerra, que lhe valeram 13 anos de internação em hospício.
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Duvido que tenha lido o ABC da Literatura, livreto magnífico traduzido pelos irmãos Campos, xodó da minha remota juventude, e que conheça a obra poética de Pound. Tampouco saiba do movimento que gigantes da arte mundial fizeram pela libertação dele. 

Esse movimento sempre me intrigou. A justificativa de Ernest Hemingway em sua célebre entrevista à Paris Review:

"Creio que Ezra deveria ser posto em liberdade e autorizado a escrever poesia na Itália. sob o compromisso de se abster de qualquer atividade política."

Argumenta:

"Os grandes poetas não são necessariamente guias de meninas. nem chefes de escoteiros. nem extraordinárias influências para a juventude. Para citar apenas alguns: Verlaine. Rimbaud, Shelley. Byron, Baudelaire. Proust. Gide não deveriam ser encarcerados a fim de impedir que fossem imitados e sua forma de pensar."

O fato é que Pound sobrevive. Entre alguns da pior forma possível.

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