Pablo Villaça
Nada ilustra melhor o fracasso das instituições brasileiras do que a imagem de parlamentares num coquetel cujo cenário é a repressão do povo. O que interessa a estes congressistas, afinal, é a satisfação de seus donos, já que o Brasil há muito deixou de ser uma democracia de fato; deputados e senadores se converteram simplesmente em avatares dos CEOs das grandes corporações, que apertam os botões de votação no Congresso à distância usando as mãos de seus alugados fantoches de terno e gravata.
Enquanto isso, a mídia, composta por várias destas mesmas corporações, ajuda a vender a narrativa de que os manifestantes são simplesmente "vândalos" e que a política de "austeridade" é fundamental para o país. Mas não se esqueçam: “austeridade” é o eufemismo político que a elite usa para descrever sua estratégia de punir os pobres por serem pobres. Se não acredita, pergunte se ela aceitaria taxação de grandes fortunas ou se aprovaria um corte nos subsídios que recebe através de impostos reduzidos, linhas de crédito ou mesmo nos anúncios que vende para a União.
Aliás, também é curioso ver jornalistas da grande mídia protestando contra a decisão da justiça de quebrar o sigilo telefônico de uma colega a fim de descobrir a identidade de uma fonte, já que não hesitaram em celebrar o vazamento de gravações ilegais quando isto lhe permitia atacar uma governante da qual não gostavam.
E que, como vemos agora, era mesmo a última barreira entre este Congresso e a entrega total de tudo que foi construído nos últimos 14 anos.
Mas não podemos dizer que não fomos avisados: Romero Jucá, líder do governo no Senado, disse claramente que era preciso "tirar Dilma" pra que pudessem agir.
Só espero que não acreditem que poderão continuar a apreciar a repressão da população à distância enquanto bebem champanhe. Se acreditam, é porque não conhecem a História.