Luis Felipe Miguel
Que 2017 seja um ano de de muita disposição para a luta.
Estamos chegando ao final de um ano duro. Um ano de derrotas, em que muito do que foi construído ao longo de décadas foi desmontado ou está sob ameaça e a nossa esperança de avançar mais, na direção de um país mais justo e mais livre, parece ter se dissipado - ou, melhor, está "congelada", como tanta coisa mais.
A noite que desce sobre o Brasil se anuncia longa. No momento, ainda não é possível sequer vislumbrar qual saída conseguiremos construir. É possível que o golpe nunca acabe, que simplesmente deslize para uma “normalização” cujos limites só conheceremos quando forem testados, ou então que cheguemos a uma transição ainda mais ambígua e limitada do que aquela que nos tirou da ditadura militar. Ou, quem sabe, podemos reunir forças para de fato impulsionar uma alternativa popular e progressista, construindo uma nova institucionalidade, focada no valor da igualdade política e voltada não para conter, mas para expressar os movimentos que nascem do mundo social.
O fato de que a gente hoje precise lutar para reconquistar o básico, o que era considerado garantido, como a democracia eleitoral, o direito ao dissenso ou o papel social do Estado, não significa que outras pautas possam ser secundarizadas. Pelo contrário, se há uma lição a ser tirada dos infaustos acontecimentos do ano que se encerra é o alto preço que se paga quando determinadas questões não são enfrentadas. Então, da desmilitarização da polícia à democratização da mídia, da legalização do aborto à garantia dos direitos trabalhistas, da liberdade para ensinar e aprender à demarcação das terras indígenas, da reforma agrária ao combate à homofobia, da tributação progressiva à proteção do meio ambiente, da promoção da igualdade racial ao direito à cidade, da ampliação da participação política popular à defesa da laicidade do Estado, há um universo de frentes de combate. A linha divisória, no entanto, é razoavelmente clara, sobretudo agora que nossos adversários parecem mais propensos a assumir, sem disfarce, seu projeto. De um lado, estão todos os que queremos uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais plural. Do outro, estão eles.
É necessário disputar os valores da sociedade que queremos construir e afirmar aqueles que, historicamente, compõem o campo em que estamos. Essa disputa é crucial e precisa ser travada sem esmorecimento.
Que 2017 seja um ano de de muita disposição para a luta.