Merecemos chegar onde chegamos



Sylvia Moretzsohn

Eu confesso que já li algumas coisas sobre a mais recente desgraça, mas não tenho ânimo de comentar nada. 

Sobretudo depois que li algumas manifestações de gente de esquerda, alguns amigos e conhecidos meus, outros que apenas conheço pelo que já publicaram, investindo na tradicional autofagia de mútuas acusações. 

Realmente, diante disso, creio que merecemos chegar onde chegamos. 

Que não haja resistência popular a toda essa aberração, há de ser, pelo menos em parte, e eu diria em grandíssima parte, responsabilidade daqueles que teriam obrigação de animar essa luta. Liderar, organizar. Como sempre foi e sempre será, apesar dos delírios juvenis que volta e meia aparecem. E isso obviamente não tem nada a ver com autoritarismo, antes que digam. 

Mas preferem engalfinhar-se. Então devem saber o que estão fazendo.

Quem sabe estamos conformados a nos tornar não um imenso Portugal, mas um imenso Porto Rico. 

De minha parte, o que posso fazer é escrever. Mas para isso é preciso ânimo. E quando a gente conclui que não adianta, então não há muito o que fazer. 

Não, não estou querendo força, não estou querendo mensagens de estímulo. Não preciso disso, tenho idade suficiente para saber o que é uma derrota. 

Apenas vou me recolher. Escrevi o quanto pude, discuti o quanto pude, agora tenho de digerir um pouco tudo isso pra ver o que fazer.

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