As eleições americanas e como não se deve fazer jornalismo: o exemplo privilegiado da GloboNews – o caso Guga Chacra
Por Lenio Luiz Streck – Coluna publicada originalmente no jornal O SUL
Por Lenio Luiz Streck – Coluna publicada originalmente no jornal O SUL
Acompanhei as eleições norte-americanas. Em “n” canais de TV e jornais. O que me chamou especialmente a atenção foi a cobertura da Globo News. E, nesta, o papel exercido por um jovem jornalista chamado Guga Chacra. Cabelos revoltos, é um sabe tudo. Um tudólogo. Tudologista. Todo pimpão, fala de Nova Iorque para o mundo. Nas eleições, jamais fez uma cobertura jornalística. O que fez foi uma torcida deslavada – para não dizer ingênua e infantil – para a candidata Hilary Clinton.
Guga desqualificava Trump todos os dias. Falava que era um candidato ridículo. E todos os adjetivos possíveis e imagináveis. Mau jornalismo na veia. Quem o menino pensa que é? Eu não votaria no Trump. Mas, cá para nós, por qual razão um jornalista que fala em um veículo que é concessão pública tem o direito de dizer tanta bobagem?
Vejam: é possível fazer jornalismo engajado. Tomar lado. Mas quando alguém fizer isso, deve fazer como o New York Times. Assumir. Não foi o caso da Globo News. “Isento”, o canal, em vários programas diários, derramou impropérios contra um dos candidatos, escondendo os defeitos da adversária.
Penso que as faculdades de jornalismo deveriam pegar os vídeos da participação do rapaz e mostrar nas aulas como um exemplo de como não se faz jornalismo. Observe-se que – e isso parece óbvio – não é o fato de o sujeito deter um diploma que faz com isso lhe encurte as orelhas. E o topete. E a unha, como se diz na minha terra. Claro que não.
Se quer falar sobre culinária, deve saber cozinhar. Se quer falar sobre eleições, deve entender de pesquisas, estatísticas, política externa, tendências eleitorais e uma pitadinha de ciência política., Caso contrário, deve se calar e apenas relatar. Como observador, deve dizer, contar os fatos. Mas proximamente de como eles são. Um telespectador de Minas Gerais mandou e-mail reclamando da parcialidade de Chacra. E ele respondeu: eu, parcial? Já critiquei várias vezes a Hillary. Bingo. Explicado.
Esse amadorismo dos veículos de comunicação é um sintoma da mediocridade destes tempos. Tudo vira estética. Dois ou três jornalistas ficam falando todo o tempo sobre qualquer coisa. E dizendo qualquer coisa sobre qualquer coisa. Profetas do passado, não conseguem nem fazer previsões sobre a notícia do dia anterior.
Por exemplo, qual foi a explicação, mesmo, da vitória do Trump? Sugiro que leiam o New York Times. Ou acessem o Google. Por exemplo, os analistas poderiam ler o texto Democrats, Trump, and the Ongoing, Dangerous Refusal to Learn the Lesson of Brexit, do site The Intercept, de autoria de Glenn Greenwald. Trata-se de uma análise detalhada sobre a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Está tudo interligado, parte de um fenômeno que estamos observando há tempos, consolidado com a saída do Reino Unido da União Europeia e agora com a vitória de Trump. Nota: incrível como nos dois casos... o resultado foi o inverso do esperado por jornalistas. E ambos são o resultado direto do voto de insubordinação (o jornalista Luis Nassif faz uma excelente análise sobre isso). Bingo!
Lições? A TV – principalmente ela – tem de optar: ou informa ou vira “opinativa”, tomando lado. Só não deve ficar disfarçando preferencias, sob o manto de que são imparciais. Bom, eu não votaria em Trump. Mas ouvindo a Globo News, se eu morasse nos isteites, quem sabe... Só de raiva do tipo de cobertura que fizeram. And I rest my case.