Sylvia Moretzsohn
Eu concordo muito com a afirmação que a matéria puxou para título, e creio que a pergunta ao final da entrevista acabou não sendo devidamente valorizada, porque aponta para uma perspectiva sombria que sempre foi o meu maior temor desde a derrubada do governo: "Nós teremos força para impor a realização de eleições?".
Desde o início eu suspeito que não teremos 2018, porque não há golpe que respeite o calendário eleitoral. Sobretudo diante do aprofundamento da crise, que, pelo visto, é o que temos pela frente.
Pois é claro: quando se rompe a legalidade democrática, o inferno é o limite.
Mas discordo muito de pelo menos dois argumentos nesta entrevista, ambos relativos à comparação entre 64 e agora:
1. De fato, é interessante assinalar que em 64 o golpe foi contra a expectativa de mudança. Já o de agora foi contra a experiência da mudança. Mas, se essas mudanças foram um processo "extraordinariamente amplo e profundo", como explicar a ausência de
resistência?
2. De fato, em 64 o golpe foi "estrategicamente concebido e acumulado" desde dez anos antes (abortado pelo suicídio de Getúlio e depois tentado por várias manobras que o Franklin enumera). Mas isto não é uma diferença, e sim uma semelhança (notável semelhança, compatível até com o período de gestação, de uma década) com o que aconteceu agora. Porque este golpe começa a se produzir em 2005, com o Mensalão, que põe em marcha a articulação do Judiciário em todo o processo que depois se escancara na Lava Jato e nessas inacreditáveis "Dez Medidas" contra a corrupção, que nos levam de volta aos tempos inquisitoriais.
Franklin também relaciona, entre os erros do PT, a falta de "debate político". Creio que é mais que isso: é a falta de educação e organização política, a falta daquele trabalho de base indissociável da tal "inclusão pelo consumo" dessa massa de gente marginalizada, sem o qual não se logra a indispensável consciência política entre os que podem e precisam reagir contra esse escandaloso retrocesso que pretendem nos impor.
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Matéria do Sul21