Nilson Lage
Leva tempo para uma situação nova ser compreendida e gerar respostas pela parte da população capaz de reagir (a maioria, na base da pirâmide, não tem acesso à informação e não se mete nessas “brigas de brancos”).
No golpe de 1964, a reação só veio, mesmo, três anos depois, com um movimento popular que ganharia as ruas, manteria pressão constante e culminaria com a resposta do poder pelo AI-5.
Inviabilizados os caminhos políticos, jovens lideranças de classe média descontentes partiram para as redes de apoio a ações de guerrilha, opção na época muito promovida; isolaram-se, assim, enquanto a economia se expandia, beneficiada pela conjuntura mundial.
O aumento do PIB e a ascensão do grupo de militares que defendiam o nacionalismo desenvolvimentista – portanto, a acelerada transformação no campo e ambiciosos projetos industriais – prolongaram a duração do regime militar.
Os segmentos atingidos pelo golpe de 2016 devem considerar longamente esses desdobramentos e sua cronologia, certos de que os estrategistas que armaram a arapuca em que se enfia o Brasil farão o mesmo, com a máxima competência.