Francisco Costa
Observou a postura da mídia, particularmente da Globo e da Band, quando das micaretas do pato da Fiesp e ontem, quando a greve foi na Venezuela é quando é aqui?
A mídia brasileira ontem funcionou como o anti piquete, incentivando as pessoas a trabalharem, e se a mídia dá ânsia de vômitos, alguns jornalistas primam pela falta de caráter, alugando a consciência e a inteligência para os patrões.
Começa logo quase de madrugada, com um tal de Luis Megali, criticando engarrafamentos, fazendo entrevistas só com os alienados reclamando dos transtornos, afirmando que o metrô está parado mas deverá funcionar, tirando as pessoas de casa.
Segue-se Boechat, com o mesmo discurso monocórdico de que a greve é dos funcionários públicos e dos sindicalistas, que a paralisação é resultado da falta de transportes, culminando por dizer que é a greve dos pneus queimando.
Passemos para a Globo, onde o Jornal Nacional foi o único telejornal a não noticiar a greve do dia seguinte, ignorando-a.
Como aconteceu na criação do décimo terceiro salário, do FGTS, da licença maternidade, na anistia, nas Diretas Já, a Globo foi a última emissora a aderir ao noticiário, antes ignorando.
A noite, no Jornal Nacional, o cínico e vendido Bonner afirmou que a Globo manteve plantão jornalístico durante todo o dia, cobrindo a greve, o que é verdade.
Mostrou piquetes nas portas das garagens de ônibus, passando a ideia de que os rodoviários não pararam por vontade própria, mas impedidos de trabalhar; mostrou ativistas apedrejando a polícia, sem esclarecer que era revide, atribuindo à militância a agressividade; mostrou umas poucas vitrines quebradas por uns poucos vândalos, tentando passar a imagem que a greve foi um movimento de vândalos; nas entrevistas de rua a chantagem emocional: a velhota que perdeu a consulta médica, o bobo alegre que pagou táxi, ao invés de ônibus, sem ressarcimento do patrão; o pai revoltado porque o filho ficou em casa, enchendo o saco, já que não teve aulas... Entremeadas com as declarações de um grevista, cuidadosamente pinçado e editado, reclamando das reformas e isentando Temer, na proporção de dez para um.
A Globo subliminarmente tentou criminalizar a greve, como sempre.
Os jornalistas da farsa, bonecos dos ventríloquos Marinhos, se esmeraram em direcionar tudo conforme as vontades dos patrões.
E há uma desgraça nova no telejornalismo brasileiro, a padronização do estilo Datena, o falar postiço, entremeado com gritinhos, como maritacas loucas.
De todos os cretinos, no entanto, sobressai um: Alexandre Garcia.
Este pobre coitado, de espírito miúdo, que foi o porta voz do General ditador João Batista de Figueiredo, não foi avisado que o ridículo tirano, no melhor estilo Cantiflas, já está no inferno, e pensa que o fascismo ainda é o regime oficial.
Cinquenta anos depois e pensa a mesma coisa, fala a mesma coisa, quer a mesma coisa. Os canalhas também envelhecem.
Enquanto a Globo fazia isso, inseria declarações dos doutos comentaristas econômicos afirmando que a Reforma da Previdência não retira direitos porque constitucionais, o que é uma verdade, desde que não se coloque – e serão colocados, em prática alguns artigos da reforma, justamente os que os comentaristas propositalmente omitem.
Sem uma Lei da Mídia, ou providenciais e acidentais incêndios em redações e estúdios, estaremos condenados às senzalas, irremediavelmente.