O peso na consciência do inseto

Gerson Carneiro

Após o breve karnaval provocado pela publicação da foto tomando vinho no jantar à mesa com Sergio Moro, de repente, não mais que de repente, Leandro Karnal deletou a postagem em que, para justificar a sobreposição da alegada motivação movida por negócios (possibilidade de desenvolvimento de projeto em parceria com Sérgio Moro) sobre a coerência da sua pregação sobre ética e retidão, se segurou no frágil argumento de que “a vida não é linear”, como o suicida arrependido se segura na raiz da grama na parede do abismo.

Ato contínuo, publicou texto intitulado “A consciência dos insetos” onde deixa transparecer ter ciência do fiasco de sua empreitada edipiniana, confessado logo na introdução ao citar Macbeth:

“A vida é só uma sombra: um mau ator que grita e se debate pelo palco, depois é esquecido. É uma história que conta o idiota, toda som e fúria, sem querer dizer nada.”

Para quem, de peito erigido, ao lado do frívolo mito da Era digital Sérgio Moro, afirmou que a vida não é linear, a seguida admissão de que a vida é só uma sombra cai como a retirada da escada antes mesmo que o pretenso Ícaro alcançasse a zona estratosférica em que o sol derreteria suas asas.

Aliás, após o costumeiro enchimento de linguiça erudito, no mesmo texto Leandro Karnal volta a confessar:

“Estou voando alto. Quero voltar ao solo. Falemos da nossa vida linear”.

Apois, havia acabado de afirmar que a vida não é linear, para justificar o ato heroico.

Novamente deixa transbordar tentativa de remendo ao afirmar seguidamente no mesmo texto “A consciência dos insetos”:

“Para evitar o desgaste de existir, criamos explicações sobre sentido, convenções culturais, frases de ânimo e medicamentos.”
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Como o afogado que emerge desesperadamente a procura de quem possa lhe salvar, ainda pergunta: “E se o desalentado fosse o sadio e aqueles que riem os desequilibrados?”.

Não, Leandro Karnal. Desequilíbrio é se aventurar em ato que contradiz a pregação de ética e retidão.

Seria o apagar da postagem tentativa de estancar a enxurrada de perda de seguidores e admiradores?

O aventureiro jantar teria sido para chamar atenção para o lançamento do curso na PUCRS em que Leandro Karnal e Sérgio Moro são anunciados como estrelas do intento comercial?

Por ter deletado a postagem, posso concluir que o orgulho do Leandro Karnal por jantar com o Sergio Moro só não é maior que a vergonha por ter registrado o encontro.

Quanto desprestígio a quem esteve à mesa e há pouco era motivo de orgulho. Isso não é ético. Mas o convidado à mesa merece.

Também, ao apagar a postagem, transparece ser dinheiro a preocupação primordial. O estrago o fez perder prestígio e admiradores. Leandro Karnal vai lecionar curso ao lado do Moro e precisa reequilibrar a balança de ser isento. Ao menos na aparência. Pois certamente potenciais clientes do curso também o seguem nas redes sociais e possivelmente estão entre os decepcionados com a postagem.

Agora é quarta feira de cinzas. O karnaval passou e a foto e o que foi dito em sua publicação ficará para a posteridade. Não adiantou deletar.

Temos a inusitada situação em que um historiador apaga a própria história.

Caso típico em que a emenda sai pior que o rasgado.

A boa ética e a retidão pregam que quando cometemos ato do qual seguidamente nos arrependemos, a melhor forma de apagar é usando a borracha da humildade para reconhecer e admitir a falha. O que traduz coragem. É o que se espera dos retos. Ainda mais quando o autor da falha é o próprio pregador.

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