Admirável Lula novo

Carlos D'Incao

A ordem do dia - para a grande imprensa nacional - é tentar esculachar com a imagem de Lula. Desenterram antigas citações de Golbery que dizia aos brados que "Lula não é esquerda, é um bon vivant!" , e se divulgam exaustivamente incontáveis delações que tentam desenhar um Lula fanfarrão e oportunista...

Pouco importa o teor do ataque e muito menos a sua fonte. O que interessa é tentar encontrar alguma infiltração nesse "edifício" chamado Lula e, a partir daí, tentar colocar sua estrutura abaixo.

O grande problema é que, ao longo de sua trajetória sindical e política, Lula forjou uma natureza porosa e flexível. Nada parece capaz de atingi-lo. As ofensas vindas das elites e da direita acabam rodando ainda mais o moinho da sua popularidade... as críticas vindas de setores mais da esquerda acabam desaguando no poço do isolamento.

A rigor, Lula nunca foi um inimigo do sistema. Sempre respeitou o jogo democrático e, se de fato acabou se envolvendo em atos ilícitos, em boa parte o fez porque essa era a única forma de se dialogar com um sistema já secularmente corrupto.

Soa ridículo querer convencer a opinião pública de que Lula seria o fundador das eleições com caixa-dois e do sistema de propinas para a aprovação de medidas provisórias e licitações de obras.

Ainda mais ridículo que isso é a tentativa de criar uma imagem de um Lula que hoje viveria com mil e uma mordomias... Justo ele que é famoso por ser alérgico a tudo o que os ricos apreciam... Um homem que não trocaria uma boa cachaça artesanal pelo mais nobre e caro vinho francês...

Um político com as qualidades de Lula (incluindo-se aí sua enorme disposição para dialogar e negociar com todos os setores sociais do país) deveria ser, a princípio, valorizado e, até mesmo, atraído para o establishment. Em certa medida isso foi feito num passado muito recente.

Por que agora querem destruí-lo? Essa questão não é tão fácil de ser respondida.

As reformas ultra-neoliberais impostas pelo atual governo Temer-tucano possuem como meta desertificar todas as conquistas sociais da classe trabalhadora brasileira até o ponto de o Brasil se equiparar ao custo-trabalho de países como o México, a Índia e a Indonésia.

Essa é a "economia competitiva" que a direita brasileira almeja para o Brasil. Uma economia que exclua quase a totalidade da população de aposentadoria, salários dignos, seguridade social, e - especialmente - direitos trabalhistas. Uma economia que atraia empresas de todo o mundo, junto com um mundo de misérias e catástrofes.

A questão é que o servilismo de Temer e seus tucanos foi tão colossal que o mercado financeiro já precificou esse "novo Brasil". Na prática esses golpistas deram ao grande capital o poder de colocar a faca no pescoço de toda a nação. Agora, ele ameaça cortá-la caso não haja a aprovação da reforma trabalhista e da reforma da previdência (a jóia da coroa dos neoliberais).

Mas aí é que está o grande problema... A demência da direita (com os seus patos da FIESP, os seus promotores ultra-evangélicos do Power Point, seus juízes justiceiros Made in USA e todos os seus caquéticos apoiadores de rua) não contava com a "insensibilidade" de um povo que se recusa a ter medo do índice Bovespa, quando já não tem mais nada a perder na vida.

Esse povo quer ir para as urnas e quer votar no Lula. E o Lula de 2018 não consegue entregar esse "novo Brasil" que os neoliberais sonham. Lula se tornou o grande obstáculo para o livre desenvolvimento de um capitalismo selvagem e totalitário. Sob a luz desse cruel e admirável "mundo novo", surge como resistência - de forma inusitada e não intencional - um admirável "Lula novo".

Esses dois mundos já estão em confronto. Em abril teremos um encontro desses dois mundos nas ruas de todo o Brasil, em uma tentativa de greve geral. Em maio esse confronto será em Curitiba e terá um desfecho incerto.

Pela primeira vez se encontrarão pessoalmente Lula e Moro. De um lado Lula, um dos mais importantes símbolos internacionais da classe trabalhadora e do outro, o juiz Sérgio Moro, símbolo de uma minoria escravocrata composta por monarquistas abjetos e donas de casa muito bem casadas - mas que se rasgam (de forma nada bem comportada) por um bacharel bem alinhado e de moral ilibada. Quem viver verá...

Subscribe to receive free email updates: