Estamos na primeira semana de abril de 2017, acumulando muitas derrotas, peleando para conseguir um pouco de mobilização contra os muitos absurdos que esse governo tentar nos impor - e os partidos de esquerda com os dois olhos postos em outubro de 2018.
Entendo a candidatura de Lula como uma forma de aumentar os custos da perseguição judicial contra ele, escancarando o que é seu conteúdo real (não a punição por algum ilícito, mas a tentativa de destruir politicamente alguém que é considerado indesejável). Mas não creio que Lula tenha algum direito divino a ser o candidato da esquerda. Ainda falta ele esclarecer qual é o seu programa, que certamente não pode ser mais o de 2002: o caminho da mudança contida, com a menor fricção possível, foi bloqueado por decisão dos grupos dominantes. Como já escrevi outro dia, se for para Lula representar a normalização do golpe, ele não será a opção da esquerda.
Mas não entendo a cartinha de Luciana Genro. O PSOL não pode tentar construir uma unidade com outras forças política do campo democrático? É um partido tão exclusivamente eleitoral que vai perder sua identidade se não tiver candidatura própria? Se é isso, não merece choro nem vela: um partido de esquerda deveria ter sua identidade ancorada na sua atuação nos movimentos populares. É realmente razoável colocar o governo golpista e o "lulismo" no mesmo plano, como adversários iguais do PSOL? Essa fórmula não tem efeito apenas em 2018; ela atrapalha desde já a unidade de ação necessária para barrar os retrocessos.
E o mais importante: tudo o que o PSOL tem a oferecer para se diferenciar do PT é seu apoio à ofensiva autoritária, moralista e antinacional que atende pelo nome de Operação Lava Jato? Eu acho que não; acho que o PSOL pode ser bem melhor do que isso. Mas, se for assim, então é melhor ficar com o PT, mesmo com seus muitos defeitos.
Luciana Genro simplesmente não entende o que o golpe significou. Muita gente diz que ela faz política como se estivesse disputando o DCE. Mas, pelo menos aqui na UnB, os estudantes souberam se unir - inclusive os do PSOL - e derrotar a direita. Luciana Genro podia aprender com eles.