Luis Felipe Miguel
Entre todos os candidatos a oráculo da extrema-direita, Luiz Felipe Pondé é talvez o mais desonesto. Porque uma coisa é ser reacionário, outra coisa é ser ignorante, uma terceira coisa é ser incapaz de alcançar um raciocínio mais complexo. Acho que Pondé reúne essas três características e adiciona a elas uma quarta, que é mentir deslavadamente.
Numa coluna famosa, em 2013, ele denunciou o moralismo do movimento feminista, que anunciava defender a liberação das mulheres, mas preferia regular sua sexualidade. Mas a líder feminista com quem ele polemizou não existia – era um fake criado por humoristas. Não devia ter sido tão difícil perceber isso, quando menos pelo fato do vídeo estar disponível numa página chamada Bobagento.com. Criticado pela então ombudsman do jornal, Pondé não teve a dignidade de se retratar. Respondeu como menino embirrado, dizendo que era aquele fake que revelava o que as feministas realmente pensavam. (Típico: ele julga que as feministas precisam de Pondé
para dizer o que elas realmente pensam.)
A coluna de hoje é dedicada a uma defesa (envergonhada) da educação mais tradicional. No meio do texto, ele escreve o seguinte:
"Jacques Derrida (1930-2004), filósofo francês criador do conceito de 'desconstrução', segundo o qual a gramática é uma forma de teologia porque unifica modos de expressão, nunca imaginaria que sua teoria (ele falava francês correto) um dia seria usada como argumento para reprovação de alunos que usam a gramática como manda o figurino."
Ele inventa esse Derrida confiando na incultura de seus leitores. Mas até Pondé sabe que ninguém reprova aluno por seguir a norma culta - "a gramática como manda o figurino", como ele diz, acreditando, ao que parece, que o figurino da gramática é uma escritura divina, não uma construção social (uma discussão que, entendo, ele não tem condições de acompanhar). O que muitos defendem é que o uso de outra variante linguística por parte dos estudantes não seja motivo para afastá-los da escola. Pondé usa de má fé e recorre aqui ao velho estratagema de desvirtuar a verdade, arma de quem sabe que não tem condições de discutir a sério.