Luis Felipe Miguel
Os recuos do governo ilegítimo na reforma da Previdência revelam duas coisas. Primeiro, que a manipulação da opinião não é imbatível. A mídia empresarial não dá nenhum espaço para visões divergentes, a desinformação paga com dinheiro público é gigantesca, mas mesmo assim a grande maioria das pessoas é capaz de entender o retrocesso que significa a proposta apresentada por Temer.
Isso ocorre porque efeito na vida de cada um é muito claro. Não tem como dizer pro cidadão que ele vai ter que trabalhar muitos anos mais do que o planejado para ganhar menos do que imaginava e que isso é bom. E pra cidadã, então? Que não se faz nada para acabar com a dupla jornada de trabalho, mas, em nome da "igualdade", será eliminada uma das poucas medidas que visam compensá-la. É difícil que ela embarque nesse discurso, que contraria tão abertamente sua experiência vivida.
O esforço, no que se refere aos muitos outros retrocessos patrocinados pelo governo, tem que ser esse: mostrar como eles atingem a vida de cada um de nós. Se isso fica claro, a resposta pode ser poderosa.
Este é o segundo ponto: os recuos mostram que, mesmo com governo ilegítimo e a democracia em xeque, a pressão popular pode ter efeitos. O discurso deles, agora, é apontar Temer recuou, então a resistência tem que recuar também, para chegar a um meio termo, como se fosse uma barganha em mercado persa. Ao contrário. É hora de ampliar a mobilização e impor uma derrota completa ao projeto do fim da aposentadoria e da legislação trabalhista.
Depois tem uma etapa mais difícil, que é sair da resistência aos retrocessos para a pressão por mudanças. Por exemplo, nós vimos quanto do anunciado "rombo" da Previdência se deve à sonegação pelas empresas. Cabe propor medidas que tornem a arrecadação mais eficaz e que punam as empresas que não repassam o que é devido. Afinal, não se trata só de impedir o retrocesso, mas de manter sustentável um regime previdenciário que garanta os direitos dos trabalhadores - e que nos permita sonhar em um dia reformá-la, sim, mas no sentido correto, ampliando seu caráter redistributivo, garantindo de forma mais plena a segurança dos aposentados e reduzindo o tempo de trabalho obrigatório.